E você? Tá rindo do quê?

abril 07, 2022

 O Valter era o gerente de marketing e tinha umas sacadas ótimas, sempre fazia a gente rir com seus comentários.

Certa vez fizemos uma festinha junina no escritório ele entrou, olhou pra todos e já disse: pessoal, já fui em velório mais animado que essa festa hem?  =)

Um dia veio me pedir ajuda em um assunto: me ajuda aqui que tô mais perdido que cachorro em dia de faxina de final de ano. rsrsrsrs

Então a gente meio que estava acostumado a já ficar esperando uma piada quando ele estava falando algo. Todos ficavam naquela "o que será que ele vai falar dessa vez", com o riso já meio que pronto.

Só que aí eu percebi que em alguns momentos ele fazia alguns comentários preconceituosos ou colocando alguém do escritório em evidência e eu...ria! Porque eu também estava tão habituada a rir dos seus comentários que eu primeiro ria e segundos depois eu pensava: peraí, não foi legal isso que ele falou.

Então passei a ficar mais atenta: vou esperar primeiro ele terminar e depois se realmente for só engraçado, dou risada.

No início nem sempre conseguia porque aquilo já era um hábito, tava no automático. Mas com atenção fui conseguindo e assim deixei de rir de comentários que não eram agradáveis ou corretos de serem feitos.

Algumas vezes eram comentários colocando alguém da equipe em evidência, falando algo que se notava que a pessoa se incomodava com aquilo mas como era sempre em tom de brincadeira, de "bom humor" todos riam. Poxa, muito chato para pessoa né?

Outras vezes também era destilado ali um preconceito, um comentário homofóbico, e por mais que não atingisse ninguém que estava ali não eram engraçados. Mas com seu jeitão jocoso ele fazia ficar. E eu definitivamente não queria compactuar com aquilo.

Então entendi que para que isso não aconteça eu primeiro escuto e sendo realmente algo engraçado entro no coro das risadas. Se não for engraçado fico, sem nenhum pudor disso, séria.

Tem certos comentários que realmente não dá mais para rir. Mesmo que quem esteja fazendo seja seu tio querido de 70 anos que sempre entendeu que "tudo bem fazer escárnio de certas coisas". A gente (muiiiito tarde) entendeu que isso não é piada. Então não vejo sentindo de rir só porque é meu tio que esteja fazendo.

E aí eu pergunto: e você? Anda rindo de quê? Vale a pena ficar atenta(o). Seu riso pode, de forma muito cruel, causar algo muito sério e profundo nas pessoas. Então por favor vamos parar.

Será que a gente ri com a galera para não ficar com fama de "ah, olha lá ela/ele, fazendo posse de "politicamente correto" não rindo dessa piada (homofóbica, racista, misógia...) tão engraçada. Que que tem rir disso, só tá a gente aqui..."

Então se você se conscientizou e realmente se importa, repito a dica: primeiro escute, reflita e depois se for o caso, ria junto. Com a prática isso se torna bem fácil de fazer.

E como meu professor Alcebíades dizia: o palhaço só existe porque tem plateia.

Então enquanto esses tipos de piadas/comentários/gracejos causarem risadas quando forem feitos a ideia de que são aceitáveis e corretos vai se fortalecendo. E isso não é legal.

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