Chá ou banho? Tem (infelizmente) uma grande diferença

novembro 01, 2021

Quem não conhece um chazinho bom para algum problema de saúde?
Gripe, gazes, insônia, tosse e outras tantas coisas que, quando você tem, sempre recebe uma indicação: já tomou chá de tal coisa? É ótimo para isso!

Eu adoro essa cultura das ervas (mesmo que não faça uso tão recorrentes delas), acho muito bonito esse conhecimento passado de geração a geração especialmente pelas mulheres.

Minha mãe é uma que sempre tem uma indicação de chá, suco para algum problema.

O Marcos uma vez me contou que quando eles ficavam doente (tosse, gripe) quando era muito forte a mãe dele levava eles ao médico para serem examinados com receio de que fosse algo mais sério, com a resposta do médico de que não era nada preocupante como uma pneumonia, ela chegava em casa, deixava a receita médica de lado e ia para o fogão preparar chás, xaropes com ervas para sanar aquele problema. Dificilmente ia a farmácia. Claro, isso mudou com a chegada da idade dela e infelizmente de problemas mais sérios como a diabete, aí sim ela fez o tratamento contínuo para si mesma com os remédios alopáticos.

Mas percebo que a coisa muda quando, por exemplo uma pessoa que está meio desanimada com a vida recebe a dica de tomar um banho com alguma erva para dar uma animada. Percebo muitos silêncios após essas sugestões ou apenas um "ah tá bom, vou ver se faço". 

E por quê? Porque culturalmente essa é uma prática usada por adeptos de crenças descendentes africanas, aqui no Brasil denominadas como candomblé e umbanda, e aí o preconceito bate forte. Pode ser a mesma erva usada para o chá, mas se falar para tomar um banho com ela a coisa muda de figura.

Pelo o fato de ser uma prática comum nessas religiões automaticamente se torna imprópria para mim porque sou da religião tal, ou seja, preconceito de classe, de religião e de raça. Já que foram religiões cultuadas e mantidas pelos escravos.

E eu me pergunto: será que Deus se importa com isso? Se é algo que você está fazendo visando o seu bem, a sua melhoria para viver bem com os seus, realizar suas tarefas...por que isso é ofensivo para Deus? Difícil para minha cabecinha entender.

Para mim isso é falta de buscar o conhecimento e se mesmo depois disso a opinião permanece aí é preconceito.

Lembro uma vez que estava com a família do Marcos e na conversa meu ex-sogro fez um comentário usando a palavra "terreiro" foi algo do tipo "foi todo mundo pro terreiro" e no momento percebi a expressão do rosto do seu genro evangélico mudar um pouco. Na hora me liguei: o seu João é nordestino e lá eles usam essa palavra para designar o quintal da casa. É comum eles falarem para as crianças: vão brincar lá fora no terreiro. 

Mas essa palavra também é usada por essas religiões para o local onde ocorrem seus rituais e práticas, inclusive antecedem o nome do local, por exemplo: vou hoje no Terreiro Tal.

Então se não houver a conversa, o interesse, sempre que a pessoa ouvir tal palavra já vai automaticamente repudiar. 

Uma das explicações para antiga fala "tragam meus sais" geralmente dita por uma pessoa de posses aos seus subordinados ao receber alguma notícia difícil ou em uma situação de grande nervosismo era uma recomendação médica da época que um banho de sais ajudava a repor o equilíbrio da pessoa naquele momento. Assim como recomendavam que as pessoas fossem para suas casas de veraneio, que geralmente eram próximas do mar, para se recuperarem de uma crise mental mais forte. Ou seja, um banho de mar faz bem para nossa saúde mental. E na falta dele será que um banho de sal grosso ajuda? E se essa sugestão vier de uma pessoa preta, umbandista? Será recebida da mesma forma?

Preconceitos...tá aí uma coisa boa de sempre ser repensada.

 



2 comentários

  1. Nossa tia!! Que otima reflexão, realmente é de se pensar! Amei!

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    1. Tanta coisa boba que a gente vai levando pra frente sem refletir não é? E o pior é quase todas calcadas no preconceito.

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