Conheci uma moça de tanto nos vermos fazendo o mesmo percurso a pé para pegar o trem, acabamos por puxar papo uma com a outra.
Num dia ela me contou, bem empolgada, que tinha conhecido um cara bem interessante. Foi falando das qualidades e do bom papo do moço.
- O único problema, ela disse, é a ex-esposa. Eles têm um filho e ela não liga muito pro menino. Então sobra tudo pra ele fazer né? (o pai).
- Quanto tempo vocês estão juntos? perguntei.
- Ah, faz pouco tempo. Uns 15 dias. Mas a gente se fala todos os dias, então ele me contou essas coisas dela.
- Ah...mas as vezes é só uma má impressão, coisas de inicio de relacionamentos. É comum causar um certo desconforto com os "exs".
- Não, ela é folgada mesmo. Uma megera.
Bruaca, megera, engraçado esses nomes que as mulheres ganham quase que automaticamente depois do fim de um relacionamento.
E geralmente após a descrição delas feitas pelos homens para as atuais.
Fácil e cômodo para eles eu acho. Aliás eu os considero bem espertos em fazer isso, criar uma relação hostil e de rivalidade entre a ex e a atual.
Assim elas nunca vão conversar sobre...ele. Tudo sobre ele vai ficar bem escondido nessa rivalidade. Quando elas se encontram já se olham armadas até as orelhas, prontas para atacar.
E ele...de boas.
Nesse caso faziam 15 dias que eles se conheciam e ela já estava chamando a ex de megera. Sem nem conhecê-la! Sem nunca terem conversado.
É claro que existem casos e casos. E existem megeras sim. Mas a regra para ser a "ex" não.
Uma vez, ouvi duas amigas comentando com espanto um relacionamento onde a ex e atual se falavam, mantinham um certo contato.
- Mas...elas não podem se dar bem? Perguntei espantada.
Duro é que a gente compra isso de uma tal maneira que estranhamos quando a condição imposta para essa situação sai do padrão.
A sociedade machista (e aqui, infelizmente não estou falando só sobre os homens) insistem em nos colocar como rivais, nos relacionamentos, no trabalho, na vida.
Chega disso né?
Tire o seu machismo do caminho que eu quero passar com a minha sororidade.
Tire o seu machismo do caminho que eu quero passar com a minha sororidade.
Um
Nas férias do ano passado:
- Tão bom tomar café da manhã ainda com o pijama né?
- Ah, eu também adoro...
- E por que que a gente não vai tomar café de pijamas? (estávamos no hotel).
Fomos, eu e o Felipe, meu sobrinho. Sob os olhares de dúvidas e argumentos do meu cunhado que Ãamos ser expulsos, que não podia...
A gente lembrou da plaquinha de aviso comunicando que não era permitido com trajes de banho, sobre pijama não falava nada.
Além do mais nossos pijamas era super discretos. No meu caso nada de transparência ou alguma ousadia. Era tipo uma regata e uma bermuda de algodão então por quê não?
Por que a gente ia abrir mão desse prazer nas nossas tão esperadas férias? Depois de quase um ano tomando café na mesa do escritório?
Nãooooo, não Ãamos abrir mão. E assim fizemos.
Não recebemos nenhum olhar de “meu, e esses dois aqui de pijamas?” até porque como eu disse eram bem normais.
E apesar do aviso tinha muita gente com roupa de praia mal disfarçada com uma saÃda de praia por cima e algumas bem ousadas até! Olha só!
Dois
Eu tenho em casa um suporte para coar café, aqueles para um único café sabe?
Levei então o coador (que é de pano) para minha mãe fazer alguns para ficarem de reserva.
Indo pra loja de tecido minha irmã perguntou: que cor você vai comprar o tecido? Branco, respondi. Segundos depois pensei: por que branco? Se a cada dois ou três cafés que eu faço tenho que deixar o coador de molho em copo de água com cândida para deixar ele branquinho de novo?
- Moço, tem esse tecido aqui na cor preta? Tem?! Quero esse então!
E assim voltei pra casa com vários coadores pretinhos, que são lavados ali na pia mesmo com detergente e ficam limpinhos para o próximo uso.
Quem falou que coador de pano tem que ser branco?
Três
Eu sempre observei isso: um bebê assim, novinho, que não anda ainda, quando vai sair a mãe sempre coloca sapatinhos.
E esses sapatinhos apesar de pequenininhos são caros pra caramba.
E pra quê se a criança não vai pro chão? Era o que eu sempre pensava.
Mas sempre vi minhas amigas comprando como se fosse um item necessário.
DaÃ, a Roberta Martinelli, jornalista de música, de quem eu gosto e acompanho nas redes sociais, teve uma filha linda, a Rosa.
E enquanto bebê de colo, ela sempre aparecia nas fotos, fossem em casa ou passeando, descalça ou de meias quando estava frio.
Quando ela começou dar os primeiros passinhos aà sim ela ganhou um par de sapatilhas brancas e muito fofas.
O que para mim faz todo o sentido. Agora sim a criança precisa de um sapato!
Daà eu penso: quantas coisas a gente faz sem questionar o por quê? E quantas vezes questionamos e a resposta é: porque sempre foi assim.
Me lembrei de uma estorinha: na véspera do casamento a mãe orienta a filha sobre como ela deve preparar o peixe que deve ser o primeiro jantar que ela deve oferecer ao marido. Era uma tradição das mulheres daquela famÃlia.
Compra um peixe grande, corta a cabeça, põe na assadeira, tempera de tal forma e põe para assar.
A filha segue as regras e oferece ao marido assim que ele chega em casa no primeiro dia de casados.
Após o jantar ela pergunta: Você gostou do peixe? Ele responde: sim, estava muito bom. Mas senti falta da cabeça, é a parte que eu mais gosto.
Aquilo abalou a jovem, ela se sentiu insegura. Correu para a casa da mãe: por que tem que cortar a cabeça do peixe? Não sei, a mãe respondeu.
Correram para a casa da avó e fizeram a mesma pergunta e tiveram a mesma resposta.
Correram as três para a casa da bisavó. De forma displicente ela respondeu: porque a minha forma é pequena, não cabia o peixe inteiro.
E aÃ? O que mais fazemos por que sempre foi feito assim?
E aÃ? O que mais fazemos por que sempre foi feito assim?