Mudança
setembro 10, 2025Depois de mais de 30 anos morando na mesma rua, minha irmã se mudou. De bairro e de uma casa para um apartamento.
Uma baita mudança. Ainda mais para uma virginiana, ela disse.
Conversando com o Felipe, meu sobrinho, ele disse que demorou para cair a ficha. Que no início, na mente dele, aquela mudança era temporária, que logo eles iam voltar para a casa que ele sempre morou.
Entendo ele. Quando eu era adolescente e imaginava o futuro, pensava que iria morar naquela casa no Jd.Rodolfo Pirani/Pq.São Rafael até me casar.
E não é que eu sonhava em me casar, é que esse era o roteiro padrão da época mesmo.
Até que meu pai, que sonhava com isso há muito tempo, resolveu de fato voltar a morar em Altinho, Pernambuco.
E de lá pra cá, acho que morei em umas 8 casas. Olha só.
Mas somente lá no Pirani eu tive a sensação de pertencimento. Nem mesmo nesta casa atual, onde moro há uns bons anos, tenho a sensação de “este é o meu bairro”. Ele me é sim, bem familiar, claro. Mas não tenho o mesmo sentimento por aqui que tive na minha infância até a adolescência.
Lá, a gente só não sabia os nº/nomes das ruas, quanto o que tinha em cada uma delas.
“Ali na 47, sabe? Perto da casa daquela mulher que faz bolo de aniversário?”
“Cê viu? Pintaram aquela casa da 48, do lado da vielinha. Ficou bonita. Gostei daquele azul clarinho.”
Tudo era muito íntimo, ou pelo menos, muito conhecido.
Tem uma música dos Racionais que acho que retrata bem isso:
“Chegou fim de semana todos querem diversão
Só alegria nós estamos no verão, mês de janeiro
São Paulo, zona sul
Todo mundo à vontade, calor céu azul
Eu quero aproveitar o Sol
Encontrar os camaradas prum basquetebol
Não pega nada
Estou a uma hora da minha quebrada
Logo mais, quero ver todos em paz...”
Me lembro do dia que a Alda, minha irmã disse isso: quando a gente tá voltando de Santo André, quando o ônibus chega ali perto do Baronesa (mercado) a gente já sente uma coisa diferente, dá uma sensação boa de estar chegando em casa, na nossa área.
E eu pensei, poxa, é verdade. Também sinto isso.
Lembro que nesse caminho, de Santo André para o Pirani, a gente vinha admirando as casas, que eram grandes, e mais pomposas. Chegando no Rafael, já ia mudando. As casas eram mais simples, mais apertadinhas uma com as outras, mas as ruas eram mais animadas, mais movimentadas, mais a gente, mais nossas.
Hoje, quando o pensamento volta pra lá, vem uma sensação tão boa, que é até difícil de descrever.
Depois de anos que tínhamos nos mudado de lá, voltamos eu e
Alda, para ver o pessoal e a mulher que tinha comprado nossa casa deixou a
gente entrar.
A fachada já estava totalmente mudada_o que já dava um aperto no coração. Cadê
o pé de boldo, cadê o portão baixo de madeira?
Mas daí, já dentro da casa, passamos pelo banheiro e meu coração quase parou. Esse sim, estava exatamente do jeito que meu pai fez. Quando vi de novo aqueles azulejos azuis com umas nuances de branco (que pareciam muito nuvens no céu)_nossa, difícil descrever o que senti. Que sensação maravilhosa.
Parece que pude ouvir o rádio ligado tocando as músicas que minhas irmãs gostavam ou programa do Eli Correa que minha mãe ouvia enquanto costurava.
O barulho do meu irmão e dos meus primos brincando no quintal.
Minha tia avisando a minha mãe que o caminhão do gás tava passando.
A gargalhada da Sônia, nossa vizinha. O barulho do ônibus parando no ponto em frente a nossa casa.
Tudo isso foi vivido só lá. Na rua Júlio César Moreira, nº3B que depois virou 1.380.
[A gente morava em São Paulo, mas bem perto da divisa com a
cidade de Santo André.
E ainda, morávamos no Bairro Jd.Rodolfo Pirani, que fazia divisa com outro bairro, o Parque São Rafael. E a gente se misturava por ali.]
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