Mentira absurda

janeiro 02, 2019

Eu tinha uns 12 anos e cuidava da casa enquanto minha mãe costurava no quarto dos fundos para ter o dinheirinho dela e para ajudar com as despesas de casa também.
Meu irmão com 6 anos, acordava, tomava café e ia para a rua brincar. Lá pelas 10h ele voltava correndo e dizia para minha mãe:
- Quero vitamina de banana!
E minha mãe respondia: pede para a Aldaneire fazer.
Eu fica p. da vida. Eu tinha que parar o que estava fazendo para fazer a tal vitamina que era a coisa mais fácil do mundo: colocar leite, banana e açúcar no liquidificador e bater um minuto.
Eu ficava indignada: por que ele não pode fazer? Por que tenho que parar o que estou fazendo?
Um dia me recusei a fazer. Argumentei que ele mesmo poderia fazer. Minha mãe ficou brava comigo, se levantou e foi fazer.
Eu me senti mal por ver ela parar suas costuras e fazer algo que eu poderia ter feito. Mas queria que ela entendesse que aquilo não era justo.
Comigo e com minhas irmãs ela sempre foi incentivadora, sempre disse: você já pode fazer isso sozinha, quando pedíamos algo. O que de fato sempre agradeci por essa educação, pois nos tornamos mulheres de iniciativa e não tementes a tarefas difíceis.
Mas com meu irmão o tratar era diferente...e eu não conseguia entender isso.

Então me acostumei a ser chamada de feminista, algumas vezes isso era dito com uma graça outras com a intenção de me insultar. Não me importava e sempre respondia: sim, sou mesmo.

Eis que chegamos aos tempos atuais e ufa! Eu não estou sozinha. Pois muitas vezes me sentia assim. Sozinha. 
Em conversas com amigas elas até concordavam com meu posicionamento, mas geralmente em frente a um homem (geralmente seus parceiros) a atitude mudava um pouco. Ficavam mais quietas.
Então novos tempos chegaram e eu percebi que não, eu não estava sozinha. E sim desinformada.
Há tempos há mulheres lutando pelos seus direitos e contra o machismo. 
Dá para acreditar que tiveram que lutar pelo direito de votar? de estudar? Que trabalhavam uma carga horária muitas vezes maior que um homem e ganhavam menos simplesmente por serem mulheres?
E que feminismo é no plural? Feminismos. Isso mesmo. Existem vários feminismos, não é uma luta única.
Uma mulher branca luta por direitos diferentes de uma mulher negra.
A mulher negra precisou (e ainda precisa!) além de lutar por esses direitos, lutar para ser reconhecida como mulher! 
Quanta tristeza...e tem muita gente que acha que isso é mimimi.
Mas não é. Infelizmente é a realidade.  
E feminismo não é a palavra da moda, é posicionamento mesmo.
E que bom que somos muitas. E somos mais. Sexo frágil? Que mentira absurda.


4 comentários

  1. Igualzinho em casa,me desculpe o que vou dizer,mas parece que um "Pinto",te dá alguns privilégios.E depois de casamento do meu irmão,foi minha cunhada que passou a ser a serviçal dedicada.

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  2. É verdade Cris, antes eu brincava com o Marcos e falava "olha, homem pode fazer isso na boa viu? Pode ficar tranquilo que o pinto não cai não se você fizer isso. É colinha de Deus, melhor não há". =)

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  3. Ai tia Tata, como te admiro de verdade. Por mais tia Tatas nas familias brasileiras e no mundo. Convivi com isso, e confesso que ainda vivo um pouco. Principalmente antes do meu irmao casar. Escutava coisas dos tipos: ah! Mas ele é homem!!! E dai Braseeeeeel?! Como diria tia Cris, Pinto dá privilégio? kkkk

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  4. Não dá mesmo Carol. Mas eles, claro, querem manter isso a todo custo pois é MUITO bom para eles.
    Mas pra gente não é?
    Então temos que nos posicionar pois senão é assim que vai ficar.
    E ó, todas nós ainda ainda convivemos com isso. Mas vejo esse grande momento feminista com muito bons olhos. E alegria. Muita! Beijos!

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